sábado, 4 de agosto de 2012

Primeiro Ano

Primeiro Ano




Como descrever o primeiro ano da maior experiência de minha vida? Como descrever a alegria? Como descrever a saudade depois de algumas horas de tê-la deixado em casa para trabalhar? Como descrever a preocupação pelo bem-estar desse ser tão dependente de mim?

Eu não tenho a respostas para as questões acima. Talvez o meu texto perca seu interesse pela grande dificuldade de descrever tais sentimentos. Porém, tentarei.

A primeira impressão de um novo pai é a surpresa diante de tamanha perfeição e inocência. O nascimento foi um milagre, mais uma evidência da existência de Deus, o ser superior que governa o universo. O corpo humano e a natureza, em geral, funcionam com tamanha perfeição que nos assombra.

Ver um ser perfeito, com seus lindos dedinhos, braços, pernas, olhos, boca, nariz, tudo em seu devido lugar, nos faz pensar em quão pequenos somos diante de tão grande poder que nos foi concedido: o de criar vida ou ajudar Deus nesta grande tarefa.

Uma pequena parte de mim, unida a outra pequena parte de minha esposa, deu origem a uma vida. Inicialmente, do tamanho de um grão de arroz (como na primeira ultrassonografia), mas com o coração batendo a uma velocidade incrível.

De repente, já se notava o formato de um pequeno ser. E então já podíamos senti-la quando chutava, se movia, brincava no caloroso ventre materno. Imagino a grandeza da sensação de uma mãe ao sentir tais movimentos dentro de seu corpo. Se eu já ficava maravilhado de senti-los desde fora.

Por fim, com a chegada do grande dia: o nascimento, iríamos vê-la, tocá-la, abraçá-la. Foi dos dias mais felizes, senão o mais.

Quando os médicos me chamaram para vê-la sair não tinha como segurar a emoção do momento. Ela surgiu, linda, já sorrindo, com os olhos bem abertos olhando tudo ao redor, talvez assustada com o espaço muito maior do mundo fora do ventre. Quando a levaram para limpar, ela chorava, queria correr atrás para saber se estava tudo bem. Quando a trouxeram de volta, a calma de estar perto dos pais encheu o ambiente. No entanto, eu não poderia continuar ali. Era momento dos médicos cuidarem das duas: a mamãe e a bebê.

Lembro como se fosse hoje o momento de vê-la no berçário. Era no 3º andar, porém no 2º eu já ouvia o choro. Como ela gritava! Fiquei pensando se era ela quem chorava, embora tivesse certeza de que sim. Ao me aproximar do vidro do berçário notei que só havia um bebê lá: era ela, minha princesa, tão linda e tão desesperada. Que falta lhe fazia a mãe!

Perdi as contas do tempo que fiquei ali, olhando-a. A vi acalmar-se aos poucos. A enfermeira lhe dando banho, o primeiro, e colocando as lindas roupas que havíamos levado e enrolando-a numa manta. Ela dormiu! E eu, feliz, não conseguia parar de mirar sua beleza e ternura.

Quando a levaram ao quarto para ficar junto da mãe, a felicidade aumentou. Estávamos juntos, os três, agora finalmente uma família, não mais um casal, mas uma família ao qual se juntava a peça que sentíamos faltar. Não digo que um casal não seja uma família. Sim, é. Porém, para nós, pessoalmente, naquele momento estávamos mais completos.

Aquela felicidade ainda iria aumentar. Era o momento de irmos para nosso lar. Nada poderia ser melhor do que irmos para a casa, acompanhados de tanta ternura. Parece que nosso lar se encheu. Ali era nossa casa e também o lugar de nossa maior alegria, nosso maior orgulho. Indescritíveis sentimentos tivemos.

Ainda não era a maior felicidade que ela me proporcionaria. Cada dia é uma surpresa: as primeiras palavras, os primeiros passos, os beijos. O choro que causa preocupação, também pode causar alegria. Chegar à casa cansado e ela não me deixar nem tomar banho, querendo ficar comigo. Ouvi-la me chamar, mesmo quando ainda não diz pai. Ver que me espera chegar para poder dormir. Que felicidade! Se eu não poderia descrever as outras emoções, esta com certeza não poderei.

Este primeiro ano pareceu tão curto diante da eternidade.