Primeiro Ano
Como
descrever o primeiro ano da maior experiência de minha vida? Como
descrever a alegria? Como descrever a saudade depois de algumas horas
de tê-la deixado em casa para trabalhar? Como descrever a
preocupação pelo bem-estar desse ser tão dependente de mim?
Eu não
tenho a respostas para as questões acima. Talvez o meu texto perca
seu interesse pela grande dificuldade de descrever tais sentimentos.
Porém, tentarei.
A
primeira impressão de um novo pai é a surpresa diante de tamanha
perfeição e inocência. O nascimento foi um milagre, mais uma
evidência da existência de Deus, o ser superior que governa o
universo. O corpo humano e a natureza, em geral, funcionam com
tamanha perfeição que nos assombra.
Ver um
ser perfeito, com seus lindos dedinhos, braços, pernas, olhos, boca,
nariz, tudo em seu devido lugar, nos faz pensar em quão pequenos
somos diante de tão grande poder que nos foi concedido: o de criar
vida ou ajudar Deus nesta grande tarefa.
Uma
pequena parte de mim, unida a outra pequena parte de minha esposa,
deu origem a uma vida. Inicialmente, do tamanho de um grão de arroz
(como na primeira ultrassonografia), mas com o coração batendo a
uma velocidade incrível.
De
repente, já se notava o formato de um pequeno ser. E então já
podíamos senti-la quando chutava, se movia, brincava no caloroso
ventre materno. Imagino a grandeza da sensação de uma mãe ao
sentir tais movimentos dentro de seu corpo. Se eu já ficava
maravilhado de senti-los desde fora.
Por fim,
com a chegada do grande dia: o nascimento, iríamos vê-la, tocá-la,
abraçá-la. Foi dos dias mais felizes, senão o mais.
Quando os
médicos me chamaram para vê-la sair não tinha como segurar a
emoção do momento. Ela surgiu, linda, já sorrindo, com os olhos
bem abertos olhando tudo ao redor, talvez assustada com o espaço
muito maior do mundo fora do ventre. Quando a levaram para limpar,
ela chorava, queria correr atrás para saber se estava tudo bem.
Quando a trouxeram de volta, a calma de estar perto dos pais encheu o
ambiente. No entanto, eu não poderia continuar ali. Era momento dos
médicos cuidarem das duas: a mamãe e a bebê.
Lembro
como se fosse hoje o momento de vê-la no berçário. Era no 3º
andar, porém no 2º eu já ouvia o choro. Como ela gritava! Fiquei
pensando se era ela quem chorava, embora tivesse certeza de que sim.
Ao me aproximar do vidro do berçário notei que só havia um bebê
lá: era ela, minha princesa, tão linda e tão desesperada. Que
falta lhe fazia a mãe!
Perdi as
contas do tempo que fiquei ali, olhando-a. A vi acalmar-se aos
poucos. A enfermeira lhe dando banho, o primeiro, e colocando as
lindas roupas que havíamos levado e enrolando-a numa manta. Ela
dormiu! E eu, feliz, não conseguia parar de mirar sua beleza e
ternura.
Quando a
levaram ao quarto para ficar junto da mãe, a felicidade aumentou.
Estávamos juntos, os três, agora finalmente uma família, não mais
um casal, mas uma família ao qual se juntava a peça que sentíamos
faltar. Não digo que um casal não seja uma família. Sim, é.
Porém, para nós, pessoalmente, naquele momento estávamos mais
completos.
Aquela
felicidade ainda iria aumentar. Era o momento de irmos para nosso
lar. Nada poderia ser melhor do que irmos para a casa, acompanhados
de tanta ternura. Parece que nosso lar se encheu. Ali era nossa casa
e também o lugar de nossa maior alegria, nosso maior orgulho.
Indescritíveis sentimentos tivemos.
Ainda não
era a maior felicidade que ela me proporcionaria. Cada dia é uma
surpresa: as primeiras palavras, os primeiros passos, os beijos. O
choro que causa preocupação, também pode causar alegria. Chegar à
casa cansado e ela não me deixar nem tomar banho, querendo ficar
comigo. Ouvi-la me chamar, mesmo quando ainda não diz pai. Ver que
me espera chegar para poder dormir. Que felicidade! Se eu não
poderia descrever as outras emoções, esta com certeza não poderei.
Este
primeiro ano pareceu tão curto diante da eternidade.